domingo, 18 de janeiro de 2015

Apenas bicicletas e apitos contra os crimes

Apenas bicicletas e apitos contra os crimes  (Foto: Wagner Almeida)
“Se as pessoas se conscientizassem, todos perceberiam a importância do nosso trabalho. Mesmo indiretamente nós ajudamos aqueles que não são nossos clientes”. O desabafo é de Raimundo Souza, de 66 anos, vigilante noturno no bairro de Val-de-Cans, desde 1982.
Com um apito e uma bicicleta – em alguns casos equipados com outros aparatos como rádios walkie talkie e cassetetes - os vigilantes noturnos seguem rondando durante as madrugadas os conjuntos de bairros da periferia e de áreas nobres da capital, prevenindo assaltos e arrombamentos nas residências de seus clientes e, inclusive, para os que não pagam as pequenas taxas mensalmente, que variam entre R$30 e R$50.
De pai para filho, a profissão resiste ao aparente aumento da criminalidade na capital e deixa nas mãos – ou nos apitos – a responsabilidade de impedir que a violência invada as casas de pessoas que acreditam que a proximidade dos vigilantes seja o primeiro passo para garantir um pouco de segurança.
BICICLETA E APITO
Em uma das ruas do Conjunto Providência, no bairro Val-de-Cans, Raimundo Souza foi visto pela reportagem durante a madrugada da última semana, por volta das 2h, pedalando em sua bicicleta.
Com uma barra de ferro presa no guidão, uma carteira de cigarros na cesta e dois rádios - um para ouvir músicas amarrado no guidão da bike e outro, mas de comunicação entre os vigias, pendurado na jaqueta camuflada - Raimundo parou alguns minutos de sua ronda para contar sobre o seu trabalho.
“Eu sou vigilante noturno desde os anos oitenta. Antes era mais perigoso, quando havia gangues. Cheguei a trabalhar armado durante dez anos, logo que comecei, mas tivemos problemas e parei de usar. O nosso trabalho é um sistema preventivo de segurança. Nós impedimos arrombamentos, assaltos e damos apoio de cobertura aos clientes que chegam tarde em suas casas ou que saem cedo. Tenho clientes de três meses, de um ano e até trinta anos, desde quando comecei”, contou.
Segundo ele, a clientela é grande e para garantir a tranquilidade todos tem seu contato de telefone, para acioná-lo em qualquer situação necessária.
“Hoje nós temos uma equipe de cinco vigilantes. Nós atendemos 170 clientes entre residências e comércios aqui nas áreas do Conjunto Providência, CDP e Conjunto Promorar. Se vemos algo estranho damos o alerta com o apito. Se precisarmos de apoio chamamos pelo rádio os colegas ou apitamos para eles. Qualquer situação suspeita o cliente nos liga e normalmente a gente ‘espanta’ o bandido. Se for algo mais grave, a gente chama a polícia, mas nem sempre eles aparecem. A gente aciona a polícia porque não usamos arma de fogo”, falou.
GUERRA NAS RUAS
Essas peculiaridades da relação desigual na luta desses trabalhadores contra o crime vêm pesando cada vez mais. O vigilante noturno Marcelino Pinheiro da Silva, de 22 anos, estava trabalhando quando foi assassinado após ter supostamente reagido a um assalto, na madrugada do dia 24 de dezembro, na Rua São Benedito, área da Feira da Nova República, no bairro de Jaderlândia, em Ananindeua. 
De acordo com informações, dois bandidos abordaram o jovem e teriam pedido o aparelho celular e a bicicleta da vítima. Ele teria tentado fugir e acabou sendo baleado com quatro tiros.
Os criminosos teriam fugido para uma área de ocupação chamada “Açaizal”, localizada à poucos metros do local do crime. Nem o celular e nem a bicicleta do vigilante foram roubados.


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