domingo, 18 de janeiro de 2015

Moradores de Abaetetuba não esquecem tragédia

Moradores de Abaetetuba não esquecem tragédia (Foto: Fernando Araújo)
Há pouco mais de 1 ano, deslizamento deixou muitas famílias desabrigadas em Abaetetuba. Esquecidos pelos governantes, hoje eles tentam retomar a vidaroberta paraenseDe Abaetetuba
Há pouco mais de um ano, em uma inesquecível manhã de sábado, a enchente da maré, aliada à insistência humana, anunciavam o início de uma das maiores catástrofes naturais do Pará.
O deslizamento de terras, no município de Abaetetuba, nordeste do Estado, ocorrido no dia 4 de janeiro de 2014, ainda provoca lembranças tristes. Famílias que perderam tudo tentam se restabelecer e seguem lutando por seus direitos.
“Era um sábado bem cedo. Tinha acabado de acordar. Eu estava sentado no sofá com o meu primo jogando videogame, quando ouvi um barulhão, e tudo começou a cair. Naquela hora eu senti muito medo. Corri e peguei na mão de minha mãe bem forte. Ela segurou até chegarmos na rua. Minha casa foi pra dentro do rio. Perdermos tudo! Até a minha televisão que eu estava jogando foi também. Hoje, eu tenho saudades de estar na minha casa”, relembrou Leandro Paixão, 9 anos, que morava às margens do rio Maratauíra, e teve sua casa soterrada.
A erosão na rua Siqueira Mendes, no bairro São João, marcou a vida de 51 famílias que viram a força da natureza levar suas roupas, eletrodomésticos, carros, motos e casas.
Destas, pelos menos 10 tiveram perda total. Hoje, as vítimas estão morando de casas alugadas e outras abrigadas com os parentes. De acordo com a Defesa Civil, mais de 300 pessoas foram lesadas direta ou indiretamente.
Segundo os engenheiros que acompanharam o caso, a região é de várzea, e, por isso, seria completamente inviável a construção de qualquer construção de madeira ou de alvenaria, entretanto, no local havia casas de até três pavimentos, o que aliado à forte maresia, contribuiu que o solo ruísse.O marítimo José Nazareno também viu tudo que construiu durante sua vida ir por água abaixo.
“Tinha acabado de começar os trabalhos na serraria, quando a vizinha gritou dizendo que na casa ao lado as tábuas estavam se soltando e as estacas começaram a se estalar. A maré estava enchendo, mas nada de anormal. Corremos para ver o que estava acontecendo. Então, em 20 minutos foi tudo para o fundo. Foi uma coisa muito rápida. Um total desespero. Tinha criança chorando com medo, e os adultos tentando entender o que estava de fato ocorrendo”, disse.
O marítimo era o proprietário da serraria que havia no local e teve seu prejuízo contabilizado em mais de 1 milhão de reais. “Eu perdi tudo que eu tinha aqui. A maré, em questão de minutos, levou minhas serras, dois motores de talhar madeira, uma moto, um caminhão, duas plantadeiras, além de dois galpões. A nossa sorte é que eu tenho outra casa, onde hoje moro com a minha família”, disse Nazareno.
Mesmo com ajuda de milhares de pessoas, as pessoas que perderam as suas propriedades, de fato, ainda não recuperaram nem a metade do que perderam. “Logo no primeiro momento, recebemos ajuda de cestas básicas, roupas, água, tudo doadas pelas pessoas. Na hora, a Defesa Civil veio aqui. Tinha polícia, helicópteros, jornalistas e a prefeita, mas depois todos nos esqueceram. Apenas algumas pessoas receberam indenização, mas foram poucas, e com valor inferior ao que foi perdido. A proposta da prefeitura pra mim foi de R$40 mil, o que não paga nada”, desabafou o marítimo.
Nazareno também lamenta sobre a falta de segurança no local, pois o que restou das vítimas foi saqueado por oportunistas. “Muitos vândalos pegaram tudo que ainda tinha. Levaram madeiras, telhas das casas, entraram e se aproveitaram das coisas. No lugar onde era uma serraria, virou um ponto de usuários de drogas. A bandidagem vive reunida por lá. Há uns três meses, acharam um homem morto lá dentro”, ressaltou

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